Desde Tweets infantis, passando por discursos incoerentes e comentários ofensivos, quando o Presidente dos Estados Unidos diz ou escreve algo, tem sempre a atenção do mundo inteiro. Mas como é que um tradutor consegue transmitir estas mensagens sem trair as suas convicções? Mais importante ainda… será que as consegue transmitir de todo?
Já muito se escreveu sobre a dificuldade que os tradutores e interpretes têm quando traduzem os discursos e mensagens para outras línguas. A forma massacrante como o Presidente dos Estados Unidos trata a língua inglesa já deixou interpretes e tradutores de todo o mundo a coçar a cabeça.
Um bom exemplo do desafio que os tradutores têm em mãos foram os comentários inapropriados que Trump fez sobre a primeira-dama francesa, Brigitte Macron, quando visitou a França para comemorar o Dia da Bastilha em 2017. Os tradutores franceses tiveram muitas dificuldades para encontrar as palavras certas para expressar que a esposa de Emmanuel Macron estava “in such good physical shape!” (algo como “está em boa forma física”), uma vez que estavam preocupados com a forma como o público francês iria reagir. E, realmente, ando as reportagens começaram a ser emitidas, alguns jornalistas franceses optaram por traduzir o elogio como “vous êtes en grande forme”, uma expressão mais suave que os leitores franceses compreenderam como “está de muito boa saúde”.
As opiniões dividem-se quando a questão é saber se a retórica controversa de Trump deve ser traduzida literalmente, incluindo insultos e comentários racistas, ou se deve ser trabalhada e oferecida numa versão mais respeitável. Há muitos que acreditam que a sua linguagem inflamatória deveria ser neutralizada e que o seu estilo deveria ser suavizado, enquanto que outros defendem que as traduções devem refletir exatamente aquilo que o Presidente diz.
Por exemplo, quando em janeiro de 2018, quando Trump afirmou que os Estados Unidos não estavam disponíveis para receber imigrantes de “Shithole countries” (algo como “países de merda”), foi necessária uma grande dose de criatividade da parte de tradutores de todo o mundo para transmitir a mensagem sem desrespeitar as suas próprias culturas. No Japão, por exemplo, um país conhecido pelas suas boas maneiras, optou-se pela solução “países de casa-de-banho”, enquanto em Taiwan, um tradutor se saiu com o original “países onde os pássaros não deixam ovos”.
E, se os discursos, declarações e tweets de Trump já são difíceis de compreender para alguns americanos, não é difícil imaginar a epopeia que muitos tradutores enfrentem para os transmitir nas suas línguas. Durante um comício no Montana em outubro deste ano, estas foram apenas algumas das frases que Trump proferiu:
- “I love these hangars. I love a hangar. There’s nothing like a hangar. You get out of the plane, you walk over, and we have massive crowds.”
(Adoro estes hangares. Adoro um hangar. Não há nada como um hangar. Saímos do avião, caminhamos um pouco e temos multidões enormes.)
- “That was one of those quickies. I love those states. You know, the polls close. Polls have just closed in the state of Montana. Trump has won Montana.”
(Foi uma daquelas rapidinhas. Adoro esses estados. Sabem, as urnas fecham. As urnas acabaram de fechar no estado do Montana. O Trump ganhou o Montana.)
- “We like the — we like the — it’s just a flowing. They do comma. They don’t do — they do a comma.”
(Nós gostamos da—gostamos da—está a fluir. Eles usam [fazem?] a virgula. Não usam – não usam a virgula.) De uma forma geral, quase ninguém percebeu do que estava o Presidente a falar.
Donald Trump veio abalar tudo e todos. O mundo da política já não é tão intelectual, o mundo da comédia não consegue encontrar nada no mundo mundano que seja uma fonte tão inesgotável de humor como é o Presidente dos Estados Unidos… e o mundo da Tradução e Interpretação nunca foi tão criativo como nestes últimos dois anos…